Se você ainda sonha com a tal barriga negativa, saiba que isso já não é o bastante para ter o “corpo do momento”. O Instagram é um advento que vai além do compartilhamento de imagens bonitas. Hoje, é um dos maiores termômetros sociais e de tendências de comportamento. Não vou dizer que antes do seu surgimento as exigências para o físico feminino eram pequenas. Mas, ao que tudo indica, esta mídia se tornou uma vitrine para modismos bem questionáveis… A última é o Ab Crack.
Se antigamente tinha o gordo e o magro, hoje estar no peso ideal já não é o suficiente para as aspirações cibernéticas. Já vimos de tudo: #BarrigaNegativa, #ThighGap (aquele espaço entre a parte interna das coxas), #BikiniBridge (quando o biquíni flutua entre os ossos da bacia, sem encostar no abdômen ao deitar), #BellyButtonChallenge (quando o braço passa por trás das costas e alcança o umbigo). Onde isso vai parar? E sabe-se lá o que está por vir! A verdade é que as pessoas estão transformando transtornos de imagem corporal em desafios lúdicos ao usar nomes e hashtags cativantes. Uma abordagem quase marqueteira. E quem ganha com isso?
#BikiniBridge
No caso, a última obcessão, o Ab Crack, em português é o equivalente a “rachadura abdominal”. Na prática é uma espécie de fissura entre as costelas, que você obtêm quando é bem magra, malha bastante (mas sem parecer forte) e não come nada que venha numa embalagem. Parece que tudo começou com algumas modelos da Victoria’s Secret que andaram se destacando na rede. Não preciso dar mais nenhum argumento aqui sobre a intangibilidade dessa modinha, né? Se até Adriana Lima passa fome por 9 dias para desfilar, é porque chegamos nos limites do possível. Isso sem contar que o corpo é material de trabalho (e salário) para estas mulheres. Para elas compensa mais e é quase dedicação exclusiva.
Se ao longo dos séculos os humanos fizeram de tudo para tornar a vida mais prática e menos sofrida, por que nós compensamos nos impondo uma série de sacrifícios desnecessários, em nome de um ideal inatingível? Não me parece muito esperto. É claro que tem aqueles que até dizem que gostam de malhar. Se eles dizem, quem sou eu para duvidar? rs… Mas a menos que essa busca seja algo que te traga alegria e prazer, não vejo o propósito de chegar a tal extremo. Ter saúde deveria ser mérito o bastante, sobretudo num mundo de invenções como Nutella, pão de queijo, sofá e Netflix.
Longe de mim querer desencorajar quem está atrás do Ab Crack ou seus precessores. Apenas gostaria de jogar uma luz sobre o assunto, para que a maioria possa enxergar que não faz sentido ficar correndo atrás de algo tão distante – sobretudo sabendo que daqui a pouco o modismo será outro, provavelmente ainda mais distante. Sejamos razoáveis. Todas essas cobranças não são realistas ou justas. Imagina conseguir atingir todas? Essa pessoa merece ao menos uma remuneração. Esse tipo de sacrifício carece de recompensa. Já eu estou aguardando o dia em que a pochete e os pneus estarão em voga. Mastigar carboidrato é uma tarefa bem mais fácil e agradável, rs.